sábado, 29 de novembro de 2008

A Moça-maçã - Italo Calvino

Era uma vez um rei e uma rainha, desesperados por que não tinham filhos.... e a rainha dizia: "Por que não posso fazer filhos... assim como as macieiras fazem as maçãs?" Aconteceu então, que a rainha, ao invés de conceber um filho.... concebeu um maçã. Era uma maçã linda e colorida, e o rei a colocou numa bandeja de outro em seu terraço.
De fronte a este rei, morava outro. E este outro rei estava um dia, debruçado na janela, quando viu.. uma linda moça.... branca e vermelha como uma maçã, que se lavava e se penteava ao sol. Ele ficou olhando de boca aberta, pois jamais vira uma moça tão linda.... mas a moça, assim que percebeu que ele observava, correu para a bandeja, entrou na maçã e desapareceu. O rei, se apaixonara por ela.
Pensa e repensar e vai bater no palácio da frente e pede a rainha. "Majestade, gostaria de lhe pedir um favor....." "De bom grado majestade, entre vizinhos se pode ser útil." "Gostaria de ganhar, aquela linda maçã que tens no terraço." "O que pretende majestade, por acaso o senhor não sabe, que sou a mãe daquela maçã e que ansiei muito por tê-la." Mas o rei, tanto fez e tanto insistiu, que para manter a amizade entre os vizinhos, não puderam lhe dizer Não.
Assim, ele levou a maçã para o seu quarto. Preparava tudo para que ela se lavasse e se penteasse. E a moça, saia todas as manhã. Se lavava, se penteava e ele observava.
A moça não fazia mais nada... Não comia, não falava... apenas se lavava e se penteava e depois voltava para sua maçã.
Aquele rei, morava com uma madrasta. A qual ao vê-lo sempre trancado no quarto, começou a suspeitar."Pagaria para saber, por que meu filho está sempre escondido." Chegou uma convocação de guerra e o rei teve de partir. Doía-lhe o coração abandonar a sua maçã. Chamou o criado mais fiel e lhe disse: "Deixo-lhe a chave do meu quarto. Todos os dias, prepare a água e o pente para a moça da maçã. E faça com que não lhe falte nada.... cuidado por que ela me contará tudo." Não era verdade, a moça não dizia uma palavra. Mas foi isso mesmo que ele dizia ao criado. "E fique atento, pois se lhe for torcido um fio de cabelo, você pagará com a cabeça. "Majestade, não tenhas dúvida de que farei o melhor possível."

O rei partiu, e a rainha madrasta tratou de entrar no aposento dele. Mandou colocar ópio, no vinho do criado e quando ele adormeceu, roubou-lhe a chave. Abriu, e vasculhou todo o aposento. Só havia mesmo aquela maçã numa fruteira de ouro. "Sua fixação só pode ser esta maçã." Sabe-se que as rainhas, carregam sempre um estilete na cintura. Pegou o estilete e se pos a perfurar a maçã. De cada furo que fazia saia um rio de sangue. A madrasta se assustou, fugiu e recolocou a chave no bolso do criado adormecido. Quando ele acordou, não entendeu o que lhe sucedera. Foi ao quarto do rei, e o encontrou alagado de sangue...."Ai de mim... o que devo fazer..."
Foi a casa de sua tia que era uma fada que possuía todos os pozinhos mágicos.
A tia pegou um pouco do pozinho para moças encantadas e outro para maçãs enfeitiçadas e misturou os dois. O criado regressou para junto da maçã e colocou um pouco do pozinho em cada furo. A maçã..... se abriu.... e saiu dela..... a moça... toda enfaichada e cheia de curativos.
O rei voltou e a moça falou pela primeira vez e lhe disse: "Ouça, sua madrasta me golpeou com um estilete, mas o seu criado me curou... tenho 18 anos e sai doe ncantamento, se me quiser, serei sua esposa....
E o rei, que por ela estava apaixonado a muito tempo lhe disse.... P"Por Deus, como a quero".
Se realizaram as festas por parte dos dois palácios vizinhos, só faltou mesmo a madrasta que fugiu e ninguém mais soube dela...
E ali ficaram e se refestelaram....
E a mim... nada entregaram...
Minto me deram um vintensinho...
E eu o coloquei.. num porquinho.

Este conto se encontra no livro Fábulas Italianas do escritor Italo Calvino.

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