sábado, 11 de agosto de 2007

A Origem dos Contos Entre os Povos Mongois


Como todas as sociedades dependentes da comunicação oral, os mongóis tinham bardos, poetas e contadores de histórias que circulavam entre os prados e as tendas palacianas e que se tornaram assunto das suas próprias histórias.


"Era uma vez uma praga que atingiu os mongóis. Os saudáveis fugiram, deixando os doentes e dizendo: “Que o Destino decida se eles vivem ou morrem.” Entre os doentes havia um jovem chamado Tarvaa. O seu espírito deixou o corpo e chegou ao lugar dos mortos. O governante daquele lugar disse a Tarvaa: “Por que deixaste o teu corpo enquanto ainda estava vivo?” “Eu não esperei que tu me chamasses”, respondeu Tarvaa, “simplesmente vim”. Comovido com a presteza com que o jovem obedeceu, o Khan do Inferno disse: “A tua hora ainda não chegou. Deves retornar. Mas podes levar daqui o que quiseres.” Tarvaa olhou em volta e viu todas as alegrias e todos os talentos terrenos: riqueza, felicidade, riso, sorte, música, dança. “Dá-me a arte de contar histórias”, disse ele, pois sabia que as histórias podem congregar todas as outras alegrias. E assim retornou ao seu corpo e constatou que os corvos já haviam arrancado os olhos. Como não podia desobedecer ao Khan do Inferno, reentrou no próprio corpo e viveu cego, porém conhecendo todos os contos. Passou o resto da vida viajando pela Mongólia, contando contos e lendas e trazendo às pessoas alegria e saber. "


Se nos guiarmos por tradições posteriores, o desempenho de bardos, poetas e contadores de histórias deu às pessoas mais do que alegria e saber. Foi crucial para moldar um senso de identidade. Misturando lenda e história, eles explicavam tradições, rememoravam origens e descreviam os feitos heróicos. O repertório era imenso, bem como a variedade de instrumentos e estilos.


(MAN, JOHN – Gêngis Khan: a vida do guerreiro que virou mito – Rio de Janeiro : Ediouro, 2004)

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